Na infância o sol era um companheiro mais
alto,
Que aparecera primeiro
no campo de futebol, e aí, parado,
Guardava as costas da
baliza e a erva que se tornava quente.
Como se o sol fosse de
facto um instrumento de cozinha,
Aperfeiçoado, antigo,
mas instrumento, matéria
Que os meninos agarravam
com os dedos e cuja
Intensidade podiam por
vontade própria regular.
Por exemplo: quando a
luz era excessiva
Os dedos protegiam os
olhos. Outras vezes
O corpo parecia a
conclusão
Natural, instintiva, do
calor que vinha de cima:
Recebíamos o sol como o
ponto final recebe
Uma frase. Fazia mais
sol quando eu tinha seis anos
(quem o fazia?) ou com o
tempo e o tédio
Me fui distraindo?
Gonçalo M. Tavares
Poema recomendado por: Francisco Duarte, 9.º ano / Turma B.
Imagem: «Pôr do sol». Fotografia de Francisco Duarte.
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