Este concurso literário promovido pelo semanário
Sol em parceria com o
Plano Nacional de Leitura envolveu várias turmas do 2º ciclo do nosso Agrupamento de Escolas e surgiram trabalhos bem interessantes. Aqui fica uma prova disso, com o trabalho do
Dinis Duarte, da turma A do 5º ano, que optou por dar continuidade à adaptação de
Os Maias de José Luís Peixoto.
CONTINUAÇÃO DE OS MAIAS
Alguns dias mais tarde, estava Carlos num momento de reflexão quando, de repente, lhe bateram à porta. Era Dâmaso que, uma vez mais, vinha lançar o seu veneno.
- Sabes como eu sou teu fiel amigo e só te quero bem, por isso resolvi vir cá dizer-te que podes contar comigo se quiseres lutar pela tua amada mulher…ou irmã.
- Dâmaso, de fiel não tens nada. Lamento informar-te que também não és meu amigo e não quero que voltes a aproximar-te do Ramalhete ou de mim. De hoje em diante, quando me encontrares, faz de conta que não me conheces – disse-lhe Carlos.
Fechou-lhe a porta na cara e foi reflectir sobre o que Dâmaso lhe havia dito. Depois de muito pensar, decidiu ir para Paris. Gostava demasiado de Maria Eduarda para nunca mais a ver, ouvir a sua voz. Paris era uma grande e bela cidade. A sua tarefa não era fácil. Percorreu a cidade durante dias e dias e nem sinal de Maria Eduarda. Desiludido, Carlos pensava em desistir, regressar ao Ramalhete e continuar a sua triste vida. De repente, olhou para o interior de uma famosa pastelaria parisiense e o seu coração começou a bater apressadamente. Maria Eduarda estava sentada numa mesa e conversava com a sua filha, sobrinha de Carlos. Entrou, dirigiu-se à mesa, aproximou-se e, quando ia falar, apercebeu-se de que, junto a Maria Eduarda, estava um jovem homem que lhe acariciava a mão. Os seus olhos encheram-se de lágrimas.
- Olá, Maria Eduarda!
Admirada, Maria Eduarda olhou para Carlos e disse:
- Carlos, o que fazes aqui?
- Vim ver-te. Precisava de te ver. Não conseguia continuar a minha vida sem falar contigo. Não sabia que já me tinhas esquecido.
- Jamais te esquecerei, Carlos. Foste o grande amor da minha vida e és sangue do meu sangue. Infelizmente, só nos podemos amar enquanto irmãos.
- Eu sei. E é precisamente isso que eu te quero pedir, que possamos ser irmãos.
- Sim, Carlos. Vamos tentar. Não vai ser fácil, mas é a melhor opção.
Em paz consigo próprio, Carlos voltou a Portugal, ao Ramalhete. Corria a notícia de que Dâmaso tinha aparecido morto. Ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido, mas todos desconfiavam que havia sido vingança de alguém a quem ele tivesse prejudicado com as suas mentiras. Apesar de tudo o que Dâmaso lhe tinha feito, Carlos sentiu pena. Após passar algum tempo a descansar no Ramalhete, Carlos sentia que, apesar de ter ultrapassado o desgosto de amar a própria irmã, ainda havia algo que o incomodava: não conhecer a sua mãe. Então, decidiu ir a Inglaterra procurá-la. Quando chegou a Inglaterra, dirigiu-se a um hotel para pernoitar e aproveitou para mostrar a velha foto de sua mãe que tinha encontrado num velho baú perdido entre as tralhas que existiam no sótão. Era uma mulher magra e pálida e as rugas que cobriam a sua cara pareciam ser a prova de sofrimento e dor. A mulher olhou atentamente a fotografia e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Ao mesmo tempo, Carlos olhou para a etiqueta que a mulher trazia ao peito e leu: Maria Monforte. Após trocarem um longo olhar, abraçaram-se.
Carlos e sua mãe voltaram juntos para o Ramalhete, local que trazia muitas recordações e arrependimento a Maria Monforte. Todos os anos também Maria Eduarda e a sua família faziam questão de visitar Carlos e Maria Monforte.
Carlos conseguira finalmente ter aquilo que nunca tinha conseguido: uma família feliz.