POEMA 17/31
Retrato de Matilde, Sarah Affonso (1899 - 1983) |
Data de consulta: 27 de fevereiro de
2022.
MÃE
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
que não tem coração dentro do peito.
Chamo aos gritos por ti - não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto - sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga (1907 - 1995)
Data de consulta: 27 de fevereiro de
2022.
Poema e pintura sugeridos por: Pedro Alves, 9.º A, n.º 15.
Leitura do poema: Pedro Alves.
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