terça-feira, 31 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: ONDA QUE, ENROLADA, TORNAS

ONDA QUE, ENROLADA, TORNAS
Na praia
Édouard Manet (1832-1883)

Onda que, enrolada, tornas,
Pequena, ao mar que te trouxe
E ao recuar te transtornas
Como se ao mar nada fosse,

Porque é que levas contigo
Só a tua cessação,
E, ao voltar ao mar antigo,
Não levas o meu coração?

Há tanto tempo que o tenho
Que me pesa de o sentir.
Leva-o no som sem tamanho
Com que te oiço a fugir! 
                                                       
           
               Fernando Pessoa
               Poema sugerido por: Joana Lopes - 7.º B

segunda-feira, 30 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: MAR PORTUGUÊS

Os Lusíadas
Gervásio (1972-)
MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lagrimas de Portugal!
Por te  cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! 

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. 
                 
        

         Fernando Pessoa
         Poema sugerido por: João Melo - 6.º A    

domingo, 29 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: URGENTE

URGENTEMENTE


O beijo
Gustav Klimt (1862-1918)


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
 Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.


         Eugénio de Andrade
         Poema sugerido por: Ana Teresa Alves - 8.º A

sábado, 28 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: QUANDO ERA CRIANÇA

Paulo como arlequim
Pablo Picasso (1881-1973)
QUANDO ERA CRIANÇA

Quando era criança
Vivi, sem saber,
Só para hoje ter
Aquela lembrança.

 
E hoje que sinto
Aquilo que fui.
Minha vida flui,
Feita do que minto.

 
Mas nesta prisão,
Livro único, leio
O sorriso alheio
De quem fui então.


  

 Fernando Pessoa
 Poema sugerido por: Juliana José - 8.º A

sexta-feira, 27 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: BRINQUEDO

Raio Colorido
Paul Klee (1879-1940)
BRINQUEDO

Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.

Miguel Torga
Poema sugerido por: Pedro Dinis - 7.º B          

quinta-feira, 26 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: MISTÉRIOS DA ESCRITA

Doze girassóis numa jarra
Vincent Van Gogh (1853-1890)
MISTÉRIOS DA ESCRITA

Escrevi a palavra flor.
Um girassol nasceu
no deserto de papel.
Era um girassol
como é um girassol.
Endireitou o caule,
sacudiu as pétalas
e perfumou o ar.
Voltou a cabeça
à procura do sol
e deixou cair dois grãos de pólen

sobre a mesa.
Depois cresceu até ficar
com a ponta de uma pétala
fora da natureza.



            Álvaro Magalhães
           Poema sugerido por: Carolina Luís - 5.º A

quarta-feira, 25 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: NOTURNO


Cão ladrando à lua
Joan Miró (1893-1983)


NOTURNO


Ladram os cães da noite
e o vento agita uns ramos
junto à minha janela.
Há um mistério no escuro -
sabem-no aquela estrela
e o gato que sonha no muro.





              João Pedro Mésseder
              Poema sugerido por: Leonor Marques - 5.º A

PEQUENOS NO TAMANHO, ENORMES NA LEITURA!

A Beatriz Reis e o Guilherme Carvalho são dois "enormes" leitores do 3.º ano da Escola de S. Roque que, nos dias cinco e doze de março, encantaram os ouvintes da Rádio Foia com as suas excelentes leituras.
A Beatriz optou pela história "O gigante egoísta", de Oscar Wilde, e, com uma leitura fluente e cativante, transportou-nos para um florido e aprazível jardim, repleto de árvores com frutos deliciosos, onde as crianças brincavam alegremente.
Embalados na graciosa leitura, fomos acompanhando a história e ficámos a saber que, certo dia,  o dono desse jardim, um gigante muito egoísta, mandou construir um enorme muro à volta e proibiu as crianças de lá entrarem. Então, a primavera deixou de aparecer, dando lugar a um longo e gelado inverno.
O gigante, que não compreendia a demora da primavera e ansiava pela mudança do tempo, percebeu, certa manhã, que as crianças haviam entrando novamente no seu jardim, aproveitando um buraco no muro, e que os ramos das árvores se cobriam de rebentos e de flores satisfeitos com a companhia das crianças.
Mas a história não fica por aqui! E, como a Beatriz fez questão de explicar muito bem, "o gigante só foi egoísta no início, depois passou a ser amigo das crianças".
 
 
Sorridente, comunicativo e descontraído, o Guilherme trouxe a boa disposição aos estúdios da Rádio Foia com "O dragão que queria ser violinista", de Luisa Villar Liébana.
Nesta história, Godofredo é um dragão muito especial, que vive deslumbrado com a beleza que o rodeia e que, certo dia, ao ouvir um menino a tocar violino, decide ser violinista, mas a sua estatura não é adequada a um instrumento musical tão pequeno e ele vai ter de repensar a sua decisão.
Com uma leitura expressiva e divertida, o Guilherme foi-nos dando conta de várias hipóteses de profissões para o Godofredo, que descobriu no contrabaixo um instrumento musical à sua medida.
Em destaque estiveram sempre as suas amigas, as Margaridas, com quem o Godofredo foi partilhando as suas emoções e cujo vocativo o Guilherme leu exemplarmente:
" - Margaridas, Margaridas! Queridas, queridas!"
 
 
  

terça-feira, 24 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: A ROSA DE AREIA

A ROSA DE AREIA


Abstração, Rosa Branca II
Georgia O'Keeffe (1887-1986)

 É uma rosa de areia
É uma flor do deserto,
Que nos transporta para longe,
Que traz o longe para perto.
 
As asas leves do vento
Lhe deram forma e feito,
Cresceu com o sol ardente
E o silêncio vazio.

Viu passar os três Reis Magos
Carregados de tesouros,
Bandos louros de camelos
E ágeis guerreiros mouros.

Rosa da areia trazida
Das dunas para a cidade,
Rosa que não murcha nunca
Porque é feita de saudade.
                
                  
                     Luísa Ducla Soares
                     Poema sugerido por: Anabela Silva - 6.º A

segunda-feira, 23 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: AMAR!

AMAR!


Os amantes nos lilases
Marc Chagall (1887-1985)
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... para me encontrar...
                                
                                
                                 Florbela Espanca
                                 Poema sugerido por: Ana Teresa Alves - 8.º A
 

domingo, 22 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: MARIA LISBOA

Varina de Lisboa
Ernesto Neves (1941-2009)
MARIA LISBOA

É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata.
Na canastra, a caravela;
no coração, a fragata.

Em vez de corvos, no xaile
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile co’ o mar.

É de conchas o vestido;
tem algas na cabeleira;
e nas veias o latido
do motor de uma traineira.

Vende sonho e maresia,
tempestade apregoa.
Seu nome próprio, Maria.
Seu apelido, Lisboa.             

                      David Mourão-Ferreira
                      Poema sugerido por: Joana Lopes - 7.º B

sábado, 21 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: MAR LUSO

No dia em que se assinala o "DIA MUNDIAL DA POESIA", o nosso destaque vai para um jovem poeta monchiquense, cujo trabalho nos orgulhamos de divulgar.



Cristo no meio da tempestade
Rembrandt (1606-1669)
MAR LUSO

Rio caudaloso
De todos os rios.
Lastro saudoso,
Cioso
De sonhos e façanhas
Feitos de lágrimas, suores e calafrios
Arrancados às entranhas
Das montanhas.
Corre, trilhado,
Em ímpetos planos.
Ondas mortas contam os anos
Que te afastam do passado
Português.
Esperam que sejas, mais uma vez,
Calmaria de uma imensidão deslumbrada,
Torrente aflita
Que se agita
Em cachões de água salgada.

                                       Eduardo Duarte

sexta-feira, 20 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: POEMA VERDE

O lago de Annecy
Paul Cézanne (1839-1906)
POEMA VERDE

Verdes são os campos,
Verdes os palmares,
Verdes papagaios
Voam pelos ares.
Verdes são os lagos
Mais os oceanos,
Verdes são as algas
E os verdes anos.
Verdes são as sombras,
Verdes são as rãs,
Verdes primaveras
E verdes maçãs.
Verde é a floresta,
Verde é o bilhar
Mas ainda mais verde
É o teu olhar.

                             Luísa Ducla Soares
                       Poema sugerido por: Maria Gervásio - 6.º A

quinta-feira, 19 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: O BURRO QUE ESCREVEU AO REI

O BURRO QUE ESCREVEU AO REI
Fernando Pessoa encontra D. Sebastião num caixão
 sobre um burro ajaezado à andaluza
Júlio Pomar (1926-)

Estou muito arreliado
Já mandei uma carta ao Rei
Quero que se faça justiça
Quero que aplique a lei
Sinto-me muito ofendido
E com carradas de razão
Sou meigo, trabalhador
Dócil e bonacheirão
Tenho paciência sem fim
Ao homem presto serviços
E ninguém me considera!
Mas o que vem a ser isso?
Carrego cargas pesadas
Pelos caminhos além
E fui eu que transportei
O Jesus e Sua mãe
Se alguém errou… é um burro
É burro! Não acertou
Não percebeu? É um burro!
Porém, o caso mudou
“ O burro é um animal
Muito, muito inteligente”
Dizia a carta do Rei
E eu fiquei todo contente!

                                    Isabel Lamas
                                    Poema recomendado por: João Melo – 6.º A

 

quarta-feira, 18 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: CANTIGA

Jardim florido
Gustav Klimt (1862-1918)
CANTIGA

Ai! A manhã primorosa
do pensamento...
Minha vida é uma pobre rosa
ao vento.

Passam arroios de cores
sobre a paisagem.
Mas tu eras a flor das flores,
imagem!

Vinde ver asas e ramos
na luz sonora!
Ninguém sabe para onde vamos
agora.  

Os jardins têm vida e morte,

noite e dia...
Quem conhecesse a sua sorte,

morria.

E é nisso que se resume

o sofrimento:
cai a flor, - e deixa o perfume
no vento!
                            Cecília Meireles
                            Poema sugerido por: Joana Rosa - 5.º A

terça-feira, 17 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: AZUL AR


Azul III
Joan Miró (1893-1983)
AZUL AR

azul mais azul que todo o azul do mar
azul mais azul que todo o azul do mundo
que azul tão azul tinha
ali o azul do céu
para onde azulou o passarinho meu
 
                        Alexandre O´Neill
                        Poema sugerido por João Duarte - 7.º A
                                        

segunda-feira, 16 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: SONETO DO AMOR E DA MORTE

Pensando na morte
Frida Kahlo (1907-1957)
 
SONETO DO AMOR E DA MORTE

quando eu morrer murmura esta canção
que escrevo para ti. quando eu morrer
fica junto de mim, não queiras ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.

quando eu morrer segura a minha mão,
põe os olhos nos meus se puder ser,
se ainda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
 
tivesse de acabar, sempre a doer,
sempre a doer de tanta perfeição
que ao deixar de bater-me o coração 
fique por nós o teu ainda a bater,
quando eu morrer segura a minha mão.

                  
                   Vasco Graça Moura
                   Poema sugerido por: Sofia Carapinha - 7.º B

 

domingo, 15 de março de 2015

SEMANA DA LEITURA 2015


UM POEMA POR DIA: CONTEMPLANDO O LAGO MUDO

Melancolia
Edvard Munch (1863-1944)
CONTEMPLANDO O LAGO MUDO

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz.
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trémulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
                        
                        Fernando Pessoa
                    Poema sugerido por: Mina Estevão - 5.º B