segunda-feira, 9 de março de 2015

UM POEMA POR DIA: CÃO

CÃO

Natureza-morta com três cães
Paul Gauguin (1848-1903)
Cão passageiro, cão estrito
cão rasteiro cor de luva amarela,
apara-lápis, fraldiqueiro,
cão liquefeito, cão estafado
cão de gravata pendente,
cão de orelhas engomadas,
de remexido rabo ausente,
cão ululante, cão coruscante,
cão magro, tétrico, maldito,
a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,
cão ali, e sempre cão.
Cão marrado, preso a um fio de cheiro,
cão a esburgar o osso
essencial do dia a dia,
cão estouvado de alegria,
cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moído de pancada
e condoído do dono,
cão: esfera do sono,
cão de pura invenção,
cão pré-fabricado,
cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,
cão de olhos que afligem,
cão-problema…

Sai depressa, ó cão, deste poema!

                              Alexandre O'Neill
                              Poema sugerido por: Carolina Silva - 6.º B

1 comentário:

Mãe disse...

Boa escolha, Carolina!
O poema que escolheste está mesmo relacionado contigo, que adoras animais! Devias estar a pensar no Bias!!! Nunca deixes de ler poesia... Beijinhos.