POEMA 08/03/2023
BIOGRAFIA
Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que
aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.
Miguel Torga, Antologia Poética, Publicações Dom Quixote, 2019, p. 205.
Quadro associado ao poema:
«O Sonho Aproxima-se», Salvador Dalí (1931) |
Imagem retirada de: https://observador.pt/2015/11/26/pinta-um-sonho-os-grandes-pintores-souberam-faze-lo/
Na minha
perspetiva, o quadro «O Sonho Aproxima-se» tem aspetos que me lembram este
poema. Como diz no poema, «é por dentro que eu gosto que aconteça», ou seja, na
nossa cabeça, nos nossos sonhos, que é uma experiência que possui um
significado. Eu relaciono este quadro com este poema porque o quadro
transmite-me uma mensagem sobre o sonho e uma possível imagem que pode ocorrer
ao adormecer. Como o poema fala, «é ela prisioneira», a torre que podes observar
no quadro lembra-me esta citação.
Maria Nunes
Poema e quadro sugeridos por: Maria Nunes, 9.º B.
1 comentário:
Excelente escolha, primorosa leitura! Miguel Torga, sempre! Obrigado, Maria!
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