POEMA 21/03/2023
MAR
Mar,
metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 – 2004).
Retirado de: https://www.escritas.org/pt/t/2168/mar
Quadro associado ao poema:
«Miranda - The Tempest» (1916), John William Waterhouse (1849-1917). |
Imagem retirada de: https://www.wikiart.org/en/john-william-waterhouse/miranda-1916
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