POEMA 09/03/2023
ENTRE AS DUAS E AS TRÊS
as letras desenhadas e compostas
com que confundo o espaço do papel,
a angústia compassada no contar
e a súbita alegria de ser eu
penosamente, às duas da manhã
Queria escrever do que não tem lugar:
a branca, doce e sonolenta estrada
onde espaçadas as palavras crescem,
suavizadas pelo lento sono
que devagar percorre as coisas todas
penosamente, às duas da manhã
Queria dizer do que não tem conserto:
ou seja, eu; ou seja, o papel branco
sombrio agora por já ser demais,
as letras excedentes e sonoras
desmembrando o silêncio e a noite toda
penosamente, às duas da manhã
Só então falarei do que ficou:
compassada alegria desenhada
na angústia de dizer sem me contar,
o papel confundido de impotente
Ana Luísa Amaral (1956 – 2022)
Retirado de: https://www.portaldaliteratura.com/poemas.php?id=1621
Quadro associado ao poema:
Imagem retirada de: https://veja.abril.com.br/coluna/sobre-palavras/tempo-tempo/
Poema e quadro sugeridos por: Dalila Rio, 7.º C, n.º 3.
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