O PÃO DOS JUDEUS
Fotografia: @Gil Matos |
«É realmente uma maravilha que eu não tenha
abandonado todos os meus ideais, porque eles parecem tão absurdos e impossíveis
de realizar. Ainda os guardo, porque apesar de tudo, eu ainda acredito que as
pessoas são realmente boas de coração.»
(in «O Diário de Anne Frank»)
Era
uma vez um rapaz loiro de olhos azuis, sempre bem vestido e com uma boa
disposição, do outro mundo. Na verdade, não havia ninguém com tão boa
disposição como este rapaz.
Aquele
sorriso do tamanho de uma bela fatia de melão só era irrelevante para os guardas
alemães que, com as suas fardas, andavam com aquelas sinistras botas pesadas,
fazendo um barulho infernal ao bater no chão de pedra.
Foi
numa tarde de trovoada, com relâmpagos do tamanho de mil «flashes»
fotográficos, que bateram à porta daquele casarão. Naquela casa de tamanho
descomunal, apenas viviam o rapaz, a sua mãe e o seu pai.
Mal
o rapaz abriu a porta, deu de caras com cinco soldados que, com umas caras de
aço, fortes e brutas, agarraram no jovem e entraram pela casa adentro à procura
de mais pessoas que lá pudessem estar. Já com os três moradores daquela casa
reunidos, meteram-nos numa carrinha, com mais duas famílias lá dentro, sem
saber o que lhes reservava o destino.
Quando
o rapaz acordou, estava numa sala nojenta, com centenas de outras pessoas.
Vestiu a roupa que lhe havia sido deixada e seguiu para a fila que estava à sua
frente. Na sua vez, tatuaram-lhe o número «03570» e, só então, o rapaz foi
levado embora. Pouco mais tarde, descobriu que estava num campo de concentração
com mais milhares de pessoas. A partir desse momento, o rapaz começou a ficar
«stressado» e irritado, pois ele nunca tinha lidado com tamanha pobreza. Estava
habituado a roupas caras e não a um simples pano listado em forma de macacão.
Também estava habituado a ter uma variedade enorme de comida ao pequeno-almoço,
ao almoço e ao jantar, e não apenas pão, pão e pão. Com sorte, teria algum
arroz de vez em quando, mas pão era mesmo o prato de todos os dias, naquele
campo de concentração horrível.
Deram-lhe
a hipótese de escolher uma profissão dentro do campo, com a qual pudesse ser
útil, e ele, completamente furioso com a ideia de ter de trabalhar à força, lá
escolheu ser padeiro e fazer o pão que ele comia todos os dias para sobreviver.
Semana a semana, o rapaz ia enlouquecendo cada vez mais por não ter os
privilégios a que sempre tinha sido habituado. Em vez disso, o horror absoluto.
Até que chegou o dia em que se cansou. Perdeu as forças. Então, começou a
insultar um guarda, até este se enraivecer. Mal o guarda se irritou, pegou na
sua espingarda e baleou o rapaz com três tiros na cabeça, fazendo este cair
desamparado, naquele chão de terra imundo.
Gil Matos, 9.º A, n.º 6
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