POEMA 11/31
We shall overcome, Joan Miró (1893 - 1983) |
Data de
consulta: 28 de fevereiro de 2022.
OLHO PARA O LIVRO
QUE ME EMPRESTASTE
Olho para o livro
que me emprestaste
e que nunca
devolvi. Também ele olha para mim.
Tem as marcas da
tua leitura, certos vincos
no branco das
páginas, manchas subtis e difusas
como nuvens, restos
das tuas mãos ou do teu olhar.
Espero que não
penses sobre mim o que penso
sobre as pessoas
que nunca me devolveram
os livros que
emprestei. O que pensarás tu
sobre mim? Nunca li
o livro que me emprestaste,
preferi sempre
imaginá-lo. Suponho que ainda
se sinta
estrangeiro entre os meus livros,
mas agora é
demasiado tarde para devolvê-lo,
há tanto tempo que
não falamos, não sei
se ainda guardo o
teu número de telefone.
O que pensarias se
agora, a despropósito,
te quisesse
devolver o livro? Havias de pensar
que queria alguma
coisa. Sabes, fico com o teu
livro porque não
quero nada. Provavelmente,
nunca te devolverei
este livro, fará parte do
meu espólio, é a
última ligação que temos.
José Luís Peixoto (1974 - )
Data de consulta: 28 de fevereiro de 2022.
Poema e pintura sugerido por: Ricardo Medronho, 9.º B, n.º 12.
Leitura do poema: Ricardo Medronho.
1 comentário:
Sempre que queiras um livro emprestado Ricardo... podes contar com o meu pequeno espólio... é só dizeres e será um orgulho que fiques com ele... João Cristina.
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