sexta-feira, 11 de março de 2022

ESCRIT@TOP.COM - CONTINUAÇÃO DE TEXTO «NWETI E O MAR»

 

Excerto da obra

        Chegaram as férias. [Nweti] foi com os pais, de carro, até uma praia muito longe da cidade. Os pais tinham alugado uma casa, em madeira, muito pequenina, toda pintada de branco. Parecia uma casa de bonecas. Anoitecia quando chegaram. A mãe cozinhou uma omelete. Comeram e foram-se deitar. Um enorme mosquiteiro protegia a cama de Nweti. A menina gostou daquilo. Sentia-se uma rainha num palácio.

       Despertou na manhã seguinte com o cantar dos pássaros. Os pais ainda dormiam. Levantou-se sem fazer ruído, abriu a porta e saiu. A areia da praia cintilava, tocada pela luz dos primeiros raios de sol. Não se via ninguém. O ar cheirava a maresia. O mar parecia um vidro azul-esverdeado, iluminado por dentro.
        Nweti afastou-se, caminhando junto à água. Avançara um bom bocado quando viu uma mulher sentada na areia, de pernas cruzadas. Era alta e elegante, de uma beleza sem esforço, como imaginamos que devem ser as princesas dos contos de fadas.
        – Ah, chegaste, Lua! – murmurou a mulher, sorrindo. – Estávamos à tua espera.
        A menina estranhou:
        – Lua?!
        – Não sabes que o teu nome significa Lua?
        Sim, Nweti sabia. O pai dizia-lhe isso muitas vezes.
         – Sim. Como sabes o meu nome?
        A mulher voltou a sorrir. Sorria e era como se o Sol nascesse do sorriso dela:
        – Nós somos teus amigos.
        – Nós?!
        – Eu e este pequeno senhor aqui.
       Enquanto falava, a mulher estendeu a mão direita. E foi então que Nweti o viu. Não podia ser, mas estava ali:
        – Eustáquio?!
   Sim, seria capaz de reconhecer o seu amigo entre um milhão de outros caranguejos‑eremitas. Era Eustáquio. O animalzinho não falou. Caranguejos-eremitas não falam. Todavia, Nweti escutou dentro de si, um pouco como se tivesse engolido um telemóvel, a voz alegre do minúsculo caranguejo:
        – Bom dia, Nweti!
        Nweti esfregou os olhos, espantada:
         – Tu existes mesmo? Pensei que fosse só um sonho…
        A mulher voltou a sorrir:
        – Se existimos nos teus sonhos, então existimos realmente. Existimos enquanto tu dormes. Aliás, tudo o que existe nos sonhos existe em algum lado.

José Eduardo Agualusa, Nweti e o Mar (Exercícios para Sonhar Sereias), Alfragide, Publicações Dom Quixote, 2011. 
(Texto com supressões)

Continuação da história

        No dia seguinte, ainda mal o sol nascera, já Nweti tinha chegado à praia, porque estava ansiosa por encontrar o seu amigo Eustáquio. Ela andou, andou, andou… procurou atrás das dunas, mas não o viu. Ficou desapontada, mas não desistiu.
        Após ter percorrido mais algumas centenas de metros, distinguiu ao longe, atrás de uma duna, uma velha cabana abandonada, com um telhado de olmo e janelas partidas e cheias de teias de aranha. A cabana não tinha porta e Nweti espreitou. Caído no chão, no meio da sala, estava um enorme javali. A menina entrou para ver se o javali precisava de ajuda, mas ele já não respirava. Quando ela estava debruçada, uma enorme sombra apareceu, bloqueando a luz. Era um enorme animal, metade leão e metade águia, mais conhecido como grifo.
        Quando viu a menina, o grifo perguntou com uma voz terrível:
        − Quem ousou entrar na minha cabana?
        Muito surpreendida, mas sem mostrar nenhum medo, Nweti disse:
        − Eu só vim à procura do Eustáquio. Conhece-lo? Viste-o?
        O grifo, feliz por a menina conhecer o seu melhor amigo, respondeu-lhe, já calmo:
      − Sim, conheço muito bem o Eustáquio, porque, quando eu tinha muitos pesadelos, ele e a sua companheira ajudaram-me com uma receita de chá milagroso que me fez dormir como um bebé!
        − Ah! Que giro! Podes levar-me até ele, por favor?
     Como sentiu que o Eustáquio ficaria muito feliz por encontrar Nweti, o grifo carregou-a nos seus ombros e voou velozmente até à gruta onde se encontrava o caranguejo.

Mayan Goller, 9.º C, n.º 10

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