Fotografia: @Leonor Valério. |
PORQUE AS ESTRELAS NÃO ME SORRIEM
Desde que
me conheço por gente, tenho um colar com uma estrela prateada, como um amuleto
da sorte que me lembra de acreditar que eu sou dona do meu próprio destino.
Apenas eu posso ser a estrela da minha vida. O meu amuleto foi-me oferecido
pelo meu avô, antes de partir deste mundo. Eu era muito pequena e por isso não
me lembro de ele mo ter dado. O que sei é apenas o que me contam. Nunca o usei,
pois espero o dia em que não esteja capaz de tomar as minhas próprias decisões
e a estrela as tome por mim, me diga o que fazer.
Levava
uma vida calma e feliz, nunca precisei de usar o meu colar, parecia até que eu
era abençoada. Estava no 3.º ano do curso de medicina; vivia num apartamento no
meio da cidade de Florença, em Itália. Eu pertencia a um padrão de beleza que
muitos comparariam à deusa Afrodite, o que é um erro enorme, visto que nunca
devemos irritar os deuses ou seremos punidos.
Um dia,
andava pelas ruas e vi um rapaz moreno, encantador, com um colar similar ao
meu, parecendo isso até um feitiço. Apaixonei-me por ele imediatamente, uma
força que nunca tinha visto antes. Algo com que eu nunca conseguiria lidar,
pressenti-o logo. Ele reparou no meu olhar, que o fuzilava. Apresentamo-nos,
conhecemo-nos e começamos a sair. Um romance perfeito à vista do mundo.
Um
entardecer, eu vi-o sem o colar, pela primeira vez. Não o tirou
propositadamente, o colar partira-se enquanto ele jogava basquetebol. Como
uma boa apaixonada, fui buscar o colar caído no chão. Porém, ele foi agressivo,
era como se o colar, colocado, servisse para o conter. Ele repôs o colar no
pescoço e pediu desculpa. Eu aceitei, afinal nenhum relacionamento é perfeito.
Um anel,
um casal e um lago. Eu sonhava levar o meu namorado àquele lago, e levei. Iria
propor-lhe casamento. Lanchamos e, depois, mesmo de roupas vestidas, fomos
para o lago nadar. Eu pus o meu colar e antes mesmo de pegar no anel, o rapaz
moreno, assim que vira o colar a brilhar com a luz do fim de tarde, empurrou-me
bruscamente. Fui puxada para o fundo do lago, naquele crepúsculo, com o meu colar
a flutuar até às mãos daquele que agora era o meu assassino, quase que de uma forma
irónica.
Ali
fiquei, enrugada pela água, até que a próxima pessoa com um colar igual ao meu
viesse ocupar o meu lugar.
Leonor
Valério, 9.º A, n.º 11.
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