AQUILO QUE ELE NUNCA TE DISSE
Era uma
vez uma menina cujos pais eram racistas. O seu nome? Laura.
Era
bonita, tinha cabelos loiros, pele clara, e era sonhada por muitos meninos. No
entanto, ela desejava um menino em particular. Ele tinha cabelos pretos, pele
negra, e um coração de ouro. Jawari, era o seu nome.
Certo
dia, a criança negra atreveu-se a dizer o que sentia à menina loira, a qual,
nesse momento, conversava animadamente com as suas amigas, à volta de uma mesa.
─ Olá! –
disse o menino, muito nervoso.
─ Olá.
─ Eu
gosto muito de ti.
Depois de
uns segundos de silêncio, ouviram-se as amigas de Laura a dizer: «Que nojo,
ignora!». O menino saiu a correr e a chorar.
Quando
Jawari se encontrava na paragem de autocarro para regressar a casa, a menina
foi ter com ele e disse-lhe que também gostava dele, mas que os seus pais nunca
iriam aceitar que a sua filha namorasse com uma criança negra.
No dia
seguinte, o menino encheu-se de coragem e foi falar com o pai de Laura para lhe
perguntar se podia namorar com a filha. Este gritou:
─ Claro
que não, ainda por cima com uma criança preta!
O menino
derramou lágrimas e perguntou-se:
─ Mas
porque é que eu tenho de ser negro?!
Laura, ansiosa,
foi ter com ele para lhe assegurar que não se importava com o que os pais
diziam e que queria estar com ele. Começaram, então, a namorar.
Certa
manhã, tinham os meninos ido passear, quando passou por eles um carro a tão grande
velocidade que quase atropelou Laura. Foi Jawari quem a salvou: empurrou a
menina para o lado e pôs-se à frente do carro. Cuidou dela, como sempre o tinha
feito, em particular quando ela estava triste.
Sete
horas depois do acidente, o pai da menina foi ao hospital ver o rapaz. Para lhe
dizer algo que nunca lhe tinha dito:
─
Obrigada. Obrigada por cuidares da minha filha e por teres arriscado a vida por
ela. Podem namorar à vontade. Quem sou eu, afinal, para dizer com quem a minha
filha pode namorar? Sou pai, não sou carrasco. Quando saíres do hospital,
gostaria muito que fosses a nossa casa jantar. Se quiseres.
─ Claro,
seria uma honra – respondeu o menino, débil, mas feliz.
No dia
seguinte, uma madrugada radiosa, o menino saiu do hospital. Esperava-o Laura.
Olharam-se. Sorriram. E deram as mãos. Foi aí que o sol brilhou mais forte.
Não ao
racismo.
Simão
Jesus, 9.º B, n.º 14.
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