DE MANHÃ É QUE ESCURECE
Fotografia: @André Revés |
Outrora,
um menino atordoado, indo com o seu pai dentro de um carro veloz pela
autoestrada, cuspiu para o exterior e o cuspo acabou por bater no vidro de
outro carro. O outro motorista, assustado, ou talvez irritado, acelerou o mais
rápido que pôde e foi bater na traseira do carro do pai do menino. Ambos
morreram.
O
menino abriu os olhos e viu uma luz cintilante. Quando teve os neurónios no
sítio, virou-se para uma mulher bela, com um vestido de veludo branco e cabelos
loiros. Logo teve medo que o coração saltasse para fora e foi, de imediato, dar-lhe
um beijo. Perguntou-lhe onde estava e, com um belo sorriso, ela respondeu:
—
No Céu.
Deitado
numa cama de diamante, o menino lembrou-se da face do pai, quando aquele indivíduo
bateu no carro. Era um olhar de medo e de susto. Antes do acontecido, o menino
vivia num casarão que era demasiado grande para ele, mas que, na verdade, não
passava de uma casinha tão pequena quanto uma casa de bonecas podia ser. E o
quarto tinha um armário com tantas roupas quantas as moedas de um mendigo, uma
cama de verga e um candeeiro com a luz sempre a piscar e um barulho tão agudo
que parecia que ia explodir! Um anúncio ouviu-se vindo do céu e a mulher de
veludo branco de novo apareceu. Disse-lhe que quem acertasse umas quantas
perguntas iria voltar à Terra. Ele acertou tudo e regressou.
Voltou
para casa e, no dia seguinte, foi para a escola, onde não esperava encontrar
animais no lugar de professores e «aliens» como alunos, com chapéus a indicar o
nome de cada um. Até que uma tempestade chegou perto da cidade e, naquela
manhã, o céu escureceu e o chão estremeceu. O menino entrou dentro do seu
quartinho e uma pessoa com dois milhões de metros pisou a casa e esmagou o
menino. O menino acordou exaltado, porém estava tudo bem. Soava ao longe o pai,
a chamá-lo para ir tomar o pequeno-almoço. Depois, refletiu, sentado na cama,
de casa, do hospital ou de outro lugar qualquer, que estas coisas mirabolantes
tinham sido apenas um sonho e quando olhou pela janela o céu continuava escuro.
André Revés, 9.º A, n.º 4.
Sem comentários:
Enviar um comentário