«Disparate,
já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas
desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E
que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse
dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o
rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, porque teimas em dizer que ela
existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida
[…]».
José Saramago, O Conto da Ilha
Desconhecida, Porto, Porto Editora, 2019.
Onde
fica?
A Ilha
Desconhecida?
No
Triângulo das Bermudas?
Em
Zanzibar?
Okinawa?
No
Parque Nacional dos Lagos de Plitvice?
Algures
na Reserva Natural do Vale Jiuzhaigou?
Entre
os glaciares da Patagónia Chilena?
Localizada a 15º 78' S e
54º 33' E do Oceano Índico?
Ou
exatamente aí,
no centro
do
teu
coração?
Se queres
mesmo saber, tens duas hipóteses, podendo optar por … ambas!
1) Ler O Conto da Ilha Desconhecida,
escrito por José Saramago, que aí nos revela onde qualquer um de nós (sabendo o
segredo, claro) pode encontrar uma Ilha Desconhecida.
2) Ler a continuação da
história original, tal como foi escrita pela tua colega Lara Martins, aluna do
8.º C, que propõe uma viagem bem original:
(…) Depois
de tanto insistir com o Rei para que lhe desse um barco, que sempre negava, o
Homem saiu daquela sala, deixando-o ali sentado. Saiu do palácio decidido a
construir o seu próprio barco, pois ele não precisava de depender de alguém
para realizar os seus sonhos.
Afastando-se
da casa, começaram a chover perguntas pela sua cabeça, mas o Homem tentou
manter a calma, pois lembrou-se que tinha um velho amigo pescador que o poderia
ajudar. Depois de andar alguns quilómetros, chegou a uma pequena casa, com a
pintura já gasta, cheia de mato à volta. Guiando-se até à porta de madeira
velha, bate.
- Ó da
casa! - diz o Homem falando alto, mas sem sinal que possa estar alguém. Então,
retomou o caminho, andando à deriva nos seus pensamentos mais profundos. Tropeçou
em algo, caindo no chão. Com o choque da queda, demorou um bocado para abrir os
olhos, mas, logo que os abriu, deparou-se com uma bolsa de couro castanha
semiaberta, oferecendo a visão de um lindo caderno. Não demorou muito para que
o Homem pegasse nele e o folheasse, vendo o que estava lá dentro.
O Homem
ficou estupefacto com as obras de arte que aquele simples caderno tinha: eram
lindas, pinturas cheias de vida. Em cada uma delas dava para sentir algo
especial. Guardou a bolsa, voltando à sua rota, e foi para casa. Quando lá chegou,
pousou o pequeno livro em cima da sua mesa, pensando no que iria fazer sobre o
assunto do barco.
- Claro
que há alguma ilha desconhecida! E quem é o Rei para me dizer que não posso
criar a minha própria ilha?
Assim que
ele disse isto, surgiu-lhe uma ideia na mente:
- Porque
não criar a minha própria ilha naquele caderno?
Foi à
cozinha e retirou da fogueira um pedaço de carvão que iria servir para ele
desenhar. Começou a fazer vários traços aleatórios sem sequer saber por e para
onde ir, mas o certo é que tudo o que ele gostaria de ter numa ilha colocou no
papel, desde as maiores palmeiras até ao oceano brilhando.
Logo
depois de ter acabado, o Homem ficou surpreendido com o seu trabalho, voltando
a guardar o caderno na sua bolsa, cuidadosamente, e saindo apenas com aquilo.
- O que
você quer? - perguntou o Rei ao ver novamente aquele sujeito à sua frente.
- Queria
mostrar-lhe que existem ilhas desconhecidas.
- Não é
possível, eu conheço todas as ilhas deste reino! - afirmou o Rei.
Logo o
Homem mostrou os desenhos que tinha feito.
-
Qualquer ilha desconhecida pode existir, se a criarmos à nossa própria maneira.
O rei
soltou uma gargalhada, que percorreu os ares, mas logo parou, ao aperceber-se de
que o Homem estava a falar a sério.
- Então,
significa isso que já concretizou o seu sonho? - perguntou o Rei.
- Neste
caso, sonhá-lo é concretizá-lo. O meu sonho nunca foi descobrir uma ilha. O meu
sonho foi descobrir. Descobrir, descobrir. Explorar, viajar… E talvez consiga
fazer isso através de um simples papel…
Lara
Martins, 8.º C, n.º 6.
Fonte da imagem: https://momentosdemagia.files.wordpress.com/2013/07/saramago-o-conto-da-ilha-desconhecida.jpg
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