quarta-feira, 10 de junho de 2020

SELO CURIOSO 7 - COMEMORAÇÕES: DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS


Celebra-se, hoje, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
A data, que assinala o dia da morte de Camões (10 de junho de 1580*), foi comemorada, pela primeira vez, em 1880, por decreto do rei D. Luís I, aquando dos 300 anos da morte do poeta, declarando este dia como «Dia de Festa Nacional e de Grande Gala».

Poderá parecer estranho o facto de ter sido escolhido o dia da morte do poeta em vez do dia do seu nascimento para celebrar o atual feriado nacional. Recordamos, no entanto, que não se conhece a data exata em que em que Camões nasceu, crendo-se que foi no ano de 1524.

O selo de hoje, publicado em 1980, só poderia levar-nos ao encontro de Luís Vaz de Camões, um dos maiores poetas portugueses, autor do poema épico Os Lusíadas, uma das mais importantes obras da literatura portuguesa, que celebra, de forma magistral e inigualável, os feitos gloriosos de Portugal até ao reinado de D. Sebastião.

* (ou 1579, como é apontado por alguns autores)

Selos emitidos pelas antigas colónias portuguesas.

3 comentários:

Anónimo disse...

Se António Variações dizia "Todos nós temos Amália na voz", poderemos dizer que todos nós temos Camões dentro de nós. São muitos os poetas/escritores, compositores/letristas que, ao longo dos tempos, estabelecem relações de intertextualidade com a obra literária de Camões e nos trazem à memória os seus versos que fazem parte da cultura literária e são uma herança muito importante.

Eduardo Duarte disse...

De acordo com uma publicação do dia de ontem, na página do facebook do Museu Digital do Algarve, Camões terá vivido em Monchique, tendo mesmo dedicado um extenso poema à Ribeira de Boina. Diz essa publicação:

"Luís Vaz de Camões viveu temporariamente no Algarve, onde tinha familiares. Defendem uns que na Quinta de Santo António, em Monchique; outros que em Quarteira. Certo é que escreveu um poema dedicado à ribeira de Boina:
Por meio de umas serras mui fragosas,
cercadas de silvestres arvoredos,
retumbando por ásperos penedos,
correm perenes águas deleitosas.
Na ribeira de Boina, assi chamada,
celebrada -
porque em prados
esmaltados
com frescura
de verdura,
assi se mostra amena, assi graciosa,
que excede a qualquer outra mais fermosa -

as correntes se vêem que, aceleradas,
as aves regalando e as boninas,
se vão a entrar nas águas neptuninas
por diversas ribeiras derivadas.
Com mil brancas conchinhas a áurea areia
bem se arreia;
voam aves;
mil suaves
passarinhos
nos raminhos
acordemente estão sempre cantando,
com doce acento os ares abrandando.

O doce rouxinol num ramo canta,
e de outro o pintassilgo lhe responde.
A perdiz de entre a mata, em que se esconde,
o caçador sentindo, se levanta;
voando vai ligeira mais que o vento,
vai buscando;
porém quando
vai fugindo,
retinindo
trás ela mais veloz a seta corre,
de que ferida logo cai e morre.

Aqui Progne, de um ramo em outro ramo,
co peito ensanguentado anda voando,
cibato para o ninho indo buscando;
a leda codorniz vem ao reclamo
do sagaz caçador, que a rede estende,
e pretende
com engenho
fazer dano
à coitada,
que enganada
duns esparzidos grãos de louro trigo,
nas mãos vai a cair de seu imigo.

Aqui soa a calhandra na parreira;
a rola geme; palra o estorninho;
sai a cândida pomba de seu ninho;
o tordo pousa em cima da oliveira.
Vão as doces abelhas sussurrando,
e apanhando
o rocio
fresco e frio
por o prado
de erva ornado,
com que o bravo licor fazem, que deu
à humana gente a indústria de Aristeu.

Aqui as uvas luzidas, penduradas
das pampinosas vides, resplandecem;
as frondíferas árvores se oferecem
com diferentes frutos carregadas;
os peixes n'água clara andam saltando
levantando
as pedrinhas,
e as conchinhas
rubicundas,
que as jucundas
ondas consigo trazem, crepitando
por a praia alva com ruído brando.

Aqui por entre as selvas se levantam
animais calidónios, e os veados
na fugida inda mal assegurados,
porque do som dos próprios pés se espantam.
Sai o coelho; a lebre sai manhosa
da frondosa
breve mata,
donde a cata
cão ligeiro.
Mas primeiro
que ela ao contrário férvido se entregue,
às vezes deixa em branco a quem a segue.

Luzem as brancas e purpúreas flores,
com que o brando Favónio a terra esmalta;
o fermoso Jacinto ali não falta,
lembrado dos antigos seus amores;
inda na flor se mostram esculpidos
os gemidos;
aqui Flora
sempre mora;
e com rosas
mais fermosas,
com lírios e boninas mil fragrantes,
alegra os seus amores inconstantes.

Aqui Narciso em líquido cristal
se namora de sua fermosura;
nele os pendentes ramos da espessura
debuxando-se estão ao natural.
Adónis, com que a linda Citereia
se recreia,
bem florido,
convertido
na bonina
que Ericina
por imagem deixou de qual seria
aquele por quem ela se perdia.

Lugar alegre, fresco, acomodado
para se deleitar qualquer amante,
a quem com sua ponta penetrante
o cego Amor tivesse derribado;
e para memorar ao som das águas
suas mágoas
amorosas,
as cheirosas
flores vendo,
escolhendo,
para fazer preciosas mil capelas,
e dar per grão penhor a Ninfas belas.

Eu delas, por penhor de meus amores,
uma capela à minha deusa dava;
que lhe queria bem, bem lhe mostrava
o bem-me-queres entre tantas flores;
porém, como se fora malmequeres,
os poderes
da crueldade
na beldade
bem mostrou.
Desprezou
a dádiva de flores; não por minha,
mas porque muitas mais ela em si tinha."

In
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=180395530142808&id=109183857263976&sfnsn=mo

Biblioteclando disse...

Muito obrigada, Eduardo Duarte, por esta preciosa partilha. Estamos sempre a aprender!
Obrigada, também, caro leitor anónimo, pelo seu comentário. Oxalá, todos nós tenhamos um pouco de Camões dentro de nós.