Fotografia de José Carlos Lopes
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Sei um ninho
e o ninho tem um ovo;
e o ovo, redondinho,
tem lá dentro um passarinho novo.
Mas escusas de me atentar:
nem o tiro nem o ensino;
quero ser um bom menino,
e guardar
este segredo comigo
e ter depois um amigo
que faça o pino
a voar.
Miguel Torga
2 comentários:
Este é um dos três poemas (juntamente com o «Brinquedo» e o «Um poema» - brilhantemente recitado neste programa https://www.rtp.pt/play/p1747/e178091/literatura-agora pelo Pedro Lamares a partir do minuto 0:56 ) que eu recito muitas vezes a um outro Miguel, que é Miguel por causa deste Miguel (e, também, como este último, por causa de um outro, que conhece melhor do que ninguém os segredos nos ninhos de um certo lugar de La Mancha). Não sei se é pelo poema, mas garanto que este pequeno Miguel gosta muito de ver os pássaros da época a fazerem o pino nos voos da manhã.
BRINQUEDO
Foi um sonho que eu tive:
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.
O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela,
Presa pelo cordel à sua mão.
Mas tão alto subiu
Que deixou de ser estrela de papel.
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.
Miguel Torga
Vale a pena ir aqui: https://biblioteclando2.blogspot.com/search?q=Brinquedo, para apreciar o poema numa relação com um quadro de Paul Klee.
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