“Wall Street” é o título de um conto do geógrafo e escritor monchiquense Eduardo Jorge Duarte que preenche a última página da edição de janeiro de Le Monde Diplomatique.
Fiel à sua escrita cuidada e metafórica, Eduardo Duarte
apresenta-nos, neste conto, Diamantino Serpa, um solteiro e solitário empregado
bancário que, depois da reforma, se apercebe “da vida monocórdica que levara
entregue à azáfama do ofício”, não lhe restando “ninguém a quem pudesse
entregar um afeto”. Decide, então, “dar um sentido ao resto do tempo que agora
lhe sobrava”: deixa de usar gravata e dedica-se à leitura. Os livros preenchem
os espaços outrora ocupados pelas gravatas e com estas constrói “um pequeno
muro transponível de cores, formas e texturas” “junto à ruína terraplanada de
um antigo colégio”. Diamantino Serpa soma leituras, “sentado num banco de
automóvel, perto do roçagar das suas antigas gravatas”, e estas traçam-lhe um
novo destino.
O tom policromático da realidade invade a ficção neste
excecional texto de Eduardo Duarte e o autor deixa escapar as cores, os sons,
os cheiros e os afetos que dão corpo à sua identidade. Monchique revela-se
neste conto e apresenta-se ao mundo com a sua própria “Wall Street”.
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