segunda-feira, 28 de setembro de 2020

ESCRIT@TOP.COM - A CAMINHADA

Há alunos, na nossa escola, que nos habituámos a conhecer como bons leitores. Cruzam-se connosco em várias atividades de leitura, participam em concursos, representam o Agrupamento em diversos eventos e vão crescendo como pessoas e como leitores. Um dia, descobrimos o seu talento para a escrita, um talento que não pode ser alheio a um percurso de leitura persistente e gradualmente mais complexo e exigente. O texto que se segue é prova disso e há, decerto, tantos outros jovens escritores por descobrir. 

Decidimos, por isso, criar uma nova rubrica neste blogue, Escrit@Top.com, para divulgação de textos produzidos pelos nossos alunos, individualmente ou em grupo, e também por outros elementos da comunidade educativa, como forma de motivar para a escrita.

      A CAMINHADA

    A água batia levemente no meu corpo encaminhando-me para a corrente, o sal espalhava-se pela minha cara deixando-me relaxada, o som tranquilizava-me fazendo com que eu não quisesse sair nunca mais dali. Perdi o fôlego. Subi à superfície, olhei em volta e reparei que estava sozinha. O silêncio apoderou-se de mim.
    Comecei a caminhar na praia aproveitando cada movimento. As gotas salgadas atravessavam o meu rosto, caindo depois na areia como folhas de outono. Fechei os olhos, respirei bem fundo e senti o vento invadindo o meu corpo, fazendo-me sentir mais leve que uma pena. Agachei-me. Peguei na água e vi-a cair aos poucos, entre os meus dedos, enquanto me levantava lentamente. Continuei caminho, mas desta vez fui sentindo a areia macia que pisava, onde afundava os meus pés. Parecia que caminhava sobre nuvens.
    O cheiro a mar apaixonava-me intensamente, fazendo-me querer cheirar aquilo pelo resto da minha vida. Apenas ouvia os sons das ondas batendo na areia e o leve vento que me arrepiava a pele. Com um pouco de esforço, já conseguia ouvir, bem lá ao fundo, algumas crianças brincando com uma bola, o cantarolar dos pássaros e até o barulho das minhas próprias pegadas enquanto afundavam lentamente na areia fofinha.
    Os meus olhos, mais abertos do que nunca, viam o mundo de todas as maneiras e cores. Olhei o horizonte, as montanhas verdes como relva, o azul do mar, o amarelado da areia, o avermelhado das algas… acalmei-me.
    Naquele momento, ao poder sentir, cheirar, tocar e ver, senti-me melhor do que nunca! Amei cada parte do meu corpo, amei a minha alma e os defeitos que me fazem ser única. Ao mesmo tempo, tinha a consciência de que um dia eu já não poderia fazer aquilo, por isso aproveitei cada momento, mesmo estando sozinha.
    Quem disse que estar sozinha é solidão? Eu, visualmente, estava sozinha, mas, na realidade, estava acompanhada pelos meus diversos pensamentos. Normalmente, quando estou sozinha, é quando a criatividade me ataca! Não posso e nem consigo controlar, simplesmente acontece.
    O caminho ainda está no começo, mas as conchas e pedras já começam a aparecer. Dói. As pedras ferem os meus pés, enquanto as conchas vão cortando. Alguém que me visse de frente, nem imaginaria as feridas que trago comigo.
    O destino fica contra a corrente, a dificuldade começa a aumentar. O corpo fica pesado e as minhas forças são gastas para conseguir caminhar contra a corrente. Gotas salgadas encontram-se na minha cabeça, mas desta vez é suor, símbolo de resistência e trabalho. Pensei em desistir, parecia que tudo estava contra mim: a corrente, as pedras, as conchas e até o vento. Avisto pessoas. Algumas, em quem confiava, apenas ficaram olhando, enquanto outras, as fiéis, me ajudaram.
    Continuo caminhando, umas vezes sozinha, outras vezes acompanhada. Pretendo continuar a caminhar o resto da minha vida. Por agora, vou de carro até casa!
Autora do texto: Carolina Morais

4 comentários:

Natividade Lemos disse...

Querida Carolina! Que texto maravilhoso…
Encontros inesperados de palavras, que, amorosamente, juntaste com mãos em concha, compondo um quadro literário, sereno e seguro, entre o pictórico e o cinematográfico. Magistral o uso oportuno e criterioso do pretérito imperfeito, do gerúndio e do presente. Delicioso o arranjo lento das palavras. Intensas e robustas, as metáforas. O teu texto respira segurança, maturidade e beleza.
Que bom ver-te Crescer, como leitora e escritora, entre conchas e montanhas verdes.
Um privilégio poder Ler-te. Obrigada.

Ana Gonçalves disse...

Sinto-me uma mãe super orgulhosa com a "caminhada" desta linda menina com alma de grande mulher.
Agradeço do fundo do ❤️ às pessoas "especiais" que a têm motivado e acreditado nela.

Anónimo disse...

Muito obrigada professora! Obrigada por sempre acreditar em mim e no meu potencial, ser o meu ponto de apoio e para além disso, uma grande inspiração ❤️

Com amor, Carolina Morais

Anónimo disse...

Obrigada por tudo mãe ❤️❤️ Amo-te muito

Com amor, Carolina