sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

ESCRIT@TOP.COM - CONTO V «AQUILO QUE ELE NUNCA DISSE»

 AQUILO QUE ELE NUNCA TE DISSE 

Fotografia: @Simão Jesus

Era uma vez uma menina cujos pais eram racistas. O seu nome? Laura.

Era bonita, tinha cabelos loiros, pele clara, e era sonhada por muitos meninos. No entanto, ela desejava um menino em particular. Ele tinha cabelos pretos, pele negra, e um coração de ouro. Jawari, era o seu nome.
Certo dia, a criança negra atreveu-se a dizer o que sentia à menina loira, a qual, nesse momento, conversava animadamente com as suas amigas, à volta de uma mesa.
─ Olá! – disse o menino, muito nervoso.
─ Olá.
─ Eu gosto muito de ti.
Depois de uns segundos de silêncio, ouviram-se as amigas de Laura a dizer: «Que nojo, ignora!». O menino saiu a correr e a chorar.
Quando Jawari se encontrava na paragem de autocarro para regressar a casa, a menina foi ter com ele e disse-lhe que também gostava dele, mas que os seus pais nunca iriam aceitar que a sua filha namorasse com uma criança negra.
No dia seguinte, o menino encheu-se de coragem e foi falar com o pai de Laura para lhe perguntar se podia namorar com a filha. Este gritou:
─ Claro que não, ainda por cima com uma criança preta!
O menino derramou lágrimas e perguntou-se:
─ Mas porque é que eu tenho de ser negro?!
Laura, ansiosa, foi ter com ele para lhe assegurar que não se importava com o que os pais diziam e que queria estar com ele. Começaram, então, a namorar.
Certa manhã, tinham os meninos ido passear, quando passou por eles um carro a tão grande velocidade que quase atropelou Laura. Foi Jawari quem a salvou: empurrou a menina para o lado e pôs-se à frente do carro. Cuidou dela, como sempre o tinha feito, em particular quando ela estava triste.
Sete horas depois do acidente, o pai da menina foi ao hospital ver o rapaz. Para lhe dizer algo que nunca lhe tinha dito:
─ Obrigada. Obrigada por cuidares da minha filha e por teres arriscado a vida por ela. Podem namorar à vontade. Quem sou eu, afinal, para dizer com quem a minha filha pode namorar? Sou pai, não sou carrasco. Quando saíres do hospital, gostaria muito que fosses a nossa casa jantar. Se quiseres.
─ Claro, seria uma honra – respondeu o menino, débil, mas feliz.
No dia seguinte, uma madrugada radiosa, o menino saiu do hospital. Esperava-o Laura. Olharam-se. Sorriram. E deram as mãos. Foi aí que o sol brilhou mais forte.
Não ao racismo. 

Simão Jesus, 9.º B, n.º 14.

 

Sem comentários: