Há alunos, na nossa escola, que nos
habituámos a conhecer como bons leitores. Cruzam-se connosco em várias
atividades de leitura, participam em concursos, representam o Agrupamento em
diversos eventos e vão crescendo como pessoas e como leitores. Um dia,
descobrimos o seu talento para a escrita, um talento que não pode ser alheio a
um percurso de leitura persistente e gradualmente mais complexo e exigente. O
texto que se segue é prova disso e há, decerto, tantos outros jovens escritores
por descobrir.
Decidimos, por isso, criar uma nova rubrica neste blogue, Escrit@Top.com, para divulgação de textos produzidos pelos nossos alunos, individualmente ou em grupo, e também por outros elementos da comunidade educativa, como forma de motivar para a escrita.
A água batia levemente no meu corpo
encaminhando-me para a corrente, o sal espalhava-se pela minha cara deixando-me
relaxada, o som tranquilizava-me fazendo com que eu não quisesse sair nunca
mais dali. Perdi o fôlego. Subi à superfície, olhei em volta e reparei que
estava sozinha. O silêncio apoderou-se de mim.
Comecei a caminhar na praia aproveitando
cada movimento. As gotas salgadas atravessavam o meu rosto, caindo depois na
areia como folhas de outono. Fechei os olhos, respirei bem fundo e senti o vento
invadindo o meu corpo, fazendo-me sentir mais leve que uma pena. Agachei-me.
Peguei na água e vi-a cair aos poucos, entre os meus dedos, enquanto me
levantava lentamente. Continuei caminho, mas desta vez fui sentindo a areia
macia que pisava, onde afundava os meus pés. Parecia que caminhava sobre
nuvens.
O cheiro a mar apaixonava-me
intensamente, fazendo-me querer cheirar aquilo pelo resto da minha vida. Apenas
ouvia os sons das ondas batendo na areia e o leve vento que me arrepiava a
pele. Com um pouco de esforço, já conseguia ouvir, bem lá ao fundo, algumas
crianças brincando com uma bola, o cantarolar dos pássaros e até o barulho das
minhas próprias pegadas enquanto afundavam lentamente na areia fofinha.
Os meus olhos, mais abertos do que
nunca, viam o mundo de todas as maneiras e cores. Olhei o horizonte, as
montanhas verdes como relva, o azul do mar, o amarelado da areia, o avermelhado
das algas… acalmei-me.
Naquele momento, ao poder sentir,
cheirar, tocar e ver, senti-me melhor do que nunca! Amei cada parte do meu
corpo, amei a minha alma e os defeitos que me fazem ser única. Ao mesmo tempo,
tinha a consciência de que um dia eu já não poderia fazer aquilo, por isso
aproveitei cada momento, mesmo estando sozinha.
Quem disse que estar sozinha é solidão?
Eu, visualmente, estava sozinha, mas, na realidade, estava acompanhada pelos
meus diversos pensamentos. Normalmente, quando estou sozinha, é quando a
criatividade me ataca! Não posso e nem consigo controlar, simplesmente
acontece.
O caminho ainda está no começo, mas as
conchas e pedras já começam a aparecer. Dói. As pedras ferem os meus pés,
enquanto as conchas vão cortando. Alguém que me visse de frente, nem imaginaria
as feridas que trago comigo.
O destino fica contra a corrente, a
dificuldade começa a aumentar. O corpo fica pesado e as minhas forças são
gastas para conseguir caminhar contra a corrente. Gotas salgadas encontram-se
na minha cabeça, mas desta vez é suor, símbolo de resistência e trabalho.
Pensei em desistir, parecia que tudo estava contra mim: a corrente, as pedras,
as conchas e até o vento. Avisto pessoas. Algumas, em quem confiava, apenas
ficaram olhando, enquanto outras, as fiéis, me ajudaram.
Continuo caminhando, umas vezes sozinha,
outras vezes acompanhada. Pretendo continuar a caminhar o resto da minha vida. Por
agora, vou de carro até casa!
Autora do texto: Carolina Morais