O Martim Amaro e o Bruno Varela não gostam de ler. Eles próprios admitiram isso aos microfones da Rádio Foia no passado dia 9 de janeiro. Então o Bruno, se lhe dissessem há uns dias que iria falar de um livro na rádio local... Impossível! Nem em sonhos!
Mas há livros que têm esta capacidade de nos fazer mudar de ideias... que mexem connosco. O Caderno do Avô Heinrich, de Conceição Dinis Tomé, é um desses livros.
O Martim procurava um livro «bem fininho» para uma atividade de leitura na escola. A professora bibliotecária levava O Caderno do Avô Heinrich na pasta, acabadinho de ler. A sugestão ficou. O Martim agarrou-a, satisfeito com o reduzido número de folhas e entusiasmado com a sinopse.
O dia prometia! Afinal, não é todos os dias que vamos de Monchique a Lisboa para um treino no Seixal, na academia do Benfica. A viagem ainda é longa e um livrinho até podia dar jeito. A mãe achou estranho o silêncio do filho e culpou o telemóvel: Mas o motivo era outro: o filho estava a ler! A ler? E continuava a ler! Até deu direito a uma fotografia inimaginável para enviar para uma colega.
No caso do Bruno, a leitura fez-se pouco a pouco, devagarinho, de forma faseada. Mas a apresentação do livro na atividade «À Roda dos Livros» foi surpreendente. O Bruno superou-se e surpreendeu os colegas e as professoras com a sua prestação.
O convite foi feito. O Martim comprometeu-se logo em dezembro: a primeira edição de 2020 de «Um Livro por Semana» seria responsabilidade sua.
Mas a insegurança chegou em janeiro: já tinha lido o livro havia algum tempo... pensava que era só na semana seguinte. E se convidássemos o Bruno para o acompanhar? Parecia uma boa ideia! Entre os dois, poderiam fazer uma boa apresentação.
Pensam que foi fácil convencer o Bruno?! Deu luta! Foi bem difícil, mas o resultado superou as expectativas. O Bruno resumiu parte da história, o Martim leu (e que bem!) um excerto bastante comovente e os ouvintes ficaram a conhecer O Caderno do Avô Heinrich. A jornalista Idalete Marques aproveitou e fez, logo ali, a requisição de um exemplar da obra, incentivada pela apresentação dos dois rapazes.
No fim, ao ser questionado sobre a leitura, o Martim admitiu que aquele livro... aquele, sim, tinha gostado de ler!
À saída do estúdio, recordou que a leitura daquela obra o tinha motivado para a escrita de um bonito texto sobre a história da sua avó paterna.
O texto, que já foi publicado neste blogue, é este:
MISTÉRIO NO RAMELAU
Havia no Ramelau, a mais alta montanha de Timor Leste, uma família cujo pai provinha de Macau. Homem de poucas palavras, este. A mãe, essa era escurinha, filha da natureza, provinha do Ramelau. Um dia, tiveram uma filha a quem deram o nome de Crescência. Parecia uma chinesinha, a menina, escurinha e baixinha, como até hoje é.
Mas quem diria, o mistério ainda estava por chegar. Um soldado português, de seu nome Manuel, envolveu-se com a “Chinesinha”, que conheceu por alturas da guerra colonial, e por lá ficou. Tiveram filhos. Belos filhos, que um dia viriam a ser a minha família.
O mistério maior foi quando quiseram vir para Portugal. Já antes, o pai de Crescência tinha tido o sonho de conhecer a metrópole, mas já a mãe não queria sair da ilha onde tinha nascido e criado os seus filhos. Na altura de partirem, a família recebeu a triste notícia que o pai não tinha aguentado a dor e viera a falecer. Crescência e Manuel partiram de barco com os seus filhos, abalados pela saudade. Dois anos depois, já nesta linda vila de Monchique, tiveram um filho que, de entre todos os sete que tiveram, viria a ser o meu pai. Pedro, foi o nome que recebeu.