Embora Mineiros tenha sido o primeiro romance escrito por Manuel do Nascimento, Eu queria viver! marca a sua estreia literária, ao ser publicado pela Editorial "Inquérito" no início de 1943.
Conjunto de obras de Manuel do Nascimento com as duas edições de Eu queria viver! ao centro
A leitura das primeiras páginas apanha-nos desprevenidos, ao sermos confrontados com uma narrativa construída, toda ela, na primeira pessoa, numa perspetiva feminina e a partir do ponto de vista de uma jovem datilógrafa que, subitamente, se vê confrontada com a tuberculose.
A doença e a proximidade da morte vão, progressivamente, apurando o sentido crítico da protagonista/narradora (cujo nome nunca chegamos a saber), que, a par do seu drama pessoal, faz desfilar um conjunto de flashes da sociedade da época, pondo em evidência vários desequilíbrios sociais e questionando o papel de submissão e dependência que estava reservado à mulher.
Manuel do Nascimento surpreende-nos, nesta obra, pela sua capacidade de pensar e de escrever no feminino e pela destreza com que acede aos anseios e inquietações da mulher, revelando-se um profundo conhecedor da psicologia feminina.
Manuel do Nascimento surpreende-nos, nesta obra, pela sua capacidade de pensar e de escrever no feminino e pela destreza com que acede aos anseios e inquietações da mulher, revelando-se um profundo conhecedor da psicologia feminina.
Quase setenta anos depois da sua publicação, Eu queria viver! induz-nos, ainda, a sucessivos exercícios de reflexão sobre as incongruências do comportamento humano que tantas vezes vemos espelhadas na sociedade atual:
"Aborrece-me a mentira, embora a veja necessária, às vezes. Mas a mentira em pormenor é indigna, profissional." (Eu queria viver!, 2ª ed., pág. 21)
"Explicar é sempre difícil a uma mulher, porque os homens entenderam explicar-nos por eles." (Eu queria viver!, 2ª ed., pág. 25)
"Tenho horror aos velhos pela rigidez com que encaram os novos. Loucuras da mocidade... Um remate herdado por gerações sucessivas. E eles? Foram como nós. Hoje são cálculo para tudo, velhacaria." (Eu queria viver!, 2ª ed., pág. 94)
"Pensei no elogio fúnebre que se faz ao homem sem valor. Qualidades que não ofuscam as nossas qualidades, porque o elogiado está morto." (Eu queria viver!, 2ª ed., pág. 100)
"Ele compara-se com coisas mortas, passadas, porque deve ter medo do confronto com a vida, a vida que corre e tira certezas por onde passa." (Eu queria viver!, 2ª ed., pág. 100)
Dedicatória de Manuel do Nascimento ao Dr. António Leal na 1ª edição de Eu queria viver!