No ano em que se comemora o centenário de Manuel do Nascimento, nunca é demais apresentar como sugestão de leitura uma das suas obras.
Histórias de mineiros foi a última obra que li. E como habitualmente me acontece nos livros de que gosto, demorei a leitura das últimas páginas, lamentando que o final estivesse tão perto. Pode-se sempre reler, há sempre mais qualquer coisa para descobrir, mas falha o fator surpresa.
Estas Histórias de mineiros conduziram-me para a dura realidade da vida dos mineiros, narrada na primeira pessoa por um engenheiro de minas, incapaz de conviver com as injustiças sociais associadas ao trabalho mineiro.
Num conjunto de histórias curtas, o narrador retrata o dia a dia da mina, cruzando alegrias e tristezas, esperanças e deceções dos homens que nela trabalham. A densidade dramática que atravessa todas as histórias esbate-se na figura da personagem Janete, a companheira ideal, sensível, compreensiva e humana, e só ela confere suavidade ao tom soturno que caracteriza o espaço e os ambientes.
No narrador autodiegético adivinha-se o escritor Manuel do Nascimento e não faltam alusões às suas origens monchiquenses:
“Há bocado apontaste aquele moinho que parecia o da Portela do Vento. Gostaria de voltar lá. Foi por isso que perguntei se tinhas escrito à tua mãe.” (In Histórias de Mineiros, pág.141)
“Há bocado apontaste aquele moinho que parecia o da Portela do Vento. Gostaria de voltar lá. Foi por isso que perguntei se tinhas escrito à tua mãe.” (In Histórias de Mineiros, pág.141)